PIRACURUCA-PI

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Terra das Sete Cidades

A Intrudução Bíblica - Panorama do Velho Testamento

A Introdução Bíblica, uma das disciplinas que trata da formação do texto bíblico, fala
justamente da questão do texto, tanto do Novo, quanto do Antigo Testamento.
Designações quanto à formação da Bíblia, etnias, religiosidade de Israel no tempo de
escrita dos livros da Bíblia, cânon, crítica bíblica, valor e autoridade do Antigo e do
Novo Testamento e também de aspectos cronológicos. Acrescentaremos nesta matéria
alguns aspectos da Manuscritologia, de forma bem geral, mas para da uma noção e
situar os estudantes dentro do texto e da composição Bíblica.
A Palavra Escrita
A Bíblia pode ser descrita como uma coleção de livros escritos e que a Igreja reconhece
como inspirados; chamamos de Escritura, Escritura Sagrada e especialmente
Testamento (Antigo e Novo). A palavra Bíblia vem até nós do grego através do latim. A
expressão grega é ta biblia – “os livros”; no latim tardio, a palavra tomada por
empréstimo biblia (plural neutro em grego) foi considerada como um substantivo latino,
feminino, singular, significando “o livro”. Estes significados dados, porém não
satisfazem, posto que a Bíblia é uma BIBLIOTECA de livros com diversos autores
humanos (em torno de 40) e um autor Divino – Deus, através da inspiração do Espírito
Santo.
Dividida em duas partes – Antigo e Novo Testamento, vemos uma palavra –
“testamento” (que em português se deriva do termo testamentum do latim) que é uma
tradução aproximada de berith (hebraico) e diatheke (grego) – indicando uma
característica fundamental da revelação, isto é o PACTO, ALIANÇA, ACORDO ou
CONTRATO de Deus com o seu povo (em grego também poderemos pensar em
“disposições testamentárias”). Esta aliança era um contrato, visto que o povo também,
por seu lado, aceitou certas condições, especialmente na obrigação de ser fiel a Ele, o
único Deus verdadeiro.
O Antigo Testamento, num sentido mais restrito é a história do povo de Deus ante a luz
do Pacto, porém marcados pela fidelidade de Deus (de um lado) e infidelidade constante
do povo (de outro lado). Essa infidelidade traz, inevitavelmente, castigo merecido
sucessivamente. Mesmo assim Deus continua fiel à Aliança feita com seu povo.
O Novo Testamento, porém marca o início da Nova Aliança (por isso Novo
Testamento), baseada não em sangue de bodes e de carneiros, como na Antiga, mas no
sangue de seu próprio Filho, Jesus.
O Antigo Testamento é a preparação de Deus para o Novo Testamento. A Antiga
aliança conduz-nos à Nova Aliança e o Antigo Testamento não pode ser compreendido
completamente sem a luz do Novo Testamento sobre ele. Os dois, juntos, formam uma
única revelação do plano de Deus para redenção do seu povo!
O Antigo Testamento é o que torna o Novo compreensível e aceitável e de outro lado, o
Novo só pode ser entendido à luz que lhe provém da revelação do primeiro. Jesus disse
àqueles que não criam ser ele o Messias:
“Se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis também em mim, porque ele escreveu a meu
respeito” (Jô 5:46).
Cristo abriu a mente dos apóstolos para o entendimento das escrituras (Lc 24:25) e
Paulo argumenta sobre o véu que cobre as mentes dos judeus quando lêem o Antigo
Testamento, véu este que só é retirado em Cristo (II Co 3:14 ss).
“Existe, portanto no Antigo Testamento um conteúdo que somente a fé cristã está em
condições para compreender e julgar” (Teodorico Balarini, Bolonha, 1969 – Introdução
Bíblica, pg 25 – “Dois Princípios” – Ed Vozes).
Há CINCO verdades que podemos afirmar retirando disto dito acima:
1. O AT (AT = Antigo Testamento) é a história que nos prepara o advento de Cristo;
2. O AT é também a história das intervenções de Deus na vida do homem, para
realizar seu plano salvífico;
3. O AT é uma exposição doutrinária e religiosa que prepara o surgimento do
cristianismo;
4. O AT é uma pedagogia religiosa: a Lei nos conduz até Cristo;
5. O AT é uma figura (tipo) do NT (NT = Novo Testamento).

VISÃO GERAL DO ANTIGO TESTAMENTO
CIÊNCIA INTRODUTÓRIA DO ANTIGO TESTAMENTO
A denominação AT (Antigo Testamento) remonta a maneira que falamos da Bíblia,
posto que a expressão “testamento” vem do latim, testamentum, que é a tradução do
hebraico berit e do grego diatheke, “pacto”, “acordo”, “contrato”, “aliança” (em grego =
disposições testamentárias) – tudo isso ligado a idéia da Aliança feita ente Deus (Javé)
fez com Israel, através de Moisés.
Este conhecimento da maneira de expressar sobre o Antigo Testamento dá-se através do
judaísmo, com a coleção de livros que se tornaram Sagrada Escritura também para o
cristianismo e para o islamismo. Com a vinda e Jesus e a “Nova Aliança” a expressão
passou a significar os tempos anteriores a Cristo. O Antigo Testamento é que é a
escritura dos cristãos no princípio e o próprio Jesus assume a autoridade que o AT tinha
(Mt 5.17-19; Lc 10.25-28; 16.19-31), pois somente aos poucos é que foi surgindo o
Novo Testamento.
Apesar da ignorância de muitos, partidarismos raciais ou mesmo político em aceitar o
Antigo Testamento, temos a necessidade de o entendermos como um todo, suas partes e
o pesquisarmos de maneira científica – e é justamente disso que trata a Ciência
Introdutória do Antigo Testamento – tendo como objetivo estudar e expor todas as
fases de desenvolvimento do AT, desde suas origens até sua conclusão.
“A multiplicidade dos métodos atuais de pesquisa e dos processos de compreensão
pode-nos parecer desconcertante. Daí é que se explica talvez a facilidade com que os
estudiosos se dedicam a um destes métodos, com exclusão dos demais. Justamente cabe
a ciência introdutória uma função toda especial nas circunstâncias atuais: ela se deve
empenhar por organizar o processo de exposição, de modo diverso daqueles que se
observam em obras recentes e deve agrupar entre si aqueles livros que apresentem
características comuns, independentemente da ordem em que eles aparecem dentro do
cânon hebraico do AT. A respeito destes grupos, devem ser destacados primeiramente
os seus elementos comuns, desde pano de fundo histórico do Antigo Oriente, até aos
problemas da história das formas e da tradição, e aos fatores que dizem respeito à
compilação e a transmissão dos textos e, a seguir, os problemas que se referem à
formação e à origem de cada livro do AT, pertencente ao respectivo grupo, tudo isso
através de um processo conjunto de análise e de síntese. Por último, o estudo da
história do cânon e dos textos deve levar em conta o desenvolvimento posterior do
AT” (SELLIN – FOHRER – Introdução ao Antigo Testamento – Vol 1 – páginas 14, 15
e 16 – 3ª Edição – 1978).
A FORMAÇÃO DO TEXTO BÍBLICO
A formação do AT foi um processo bastante longo. Muito do mundo antigo está
baseado na tradição oral que passaram de pai para filho, de contador de história para
crianças, de mestres para alunos, de maridos para esposas e assim, foi preservada a
história, por exemplo, do Princípio de todas as coisas. Moisés, quando escreveu estava
mais ou menos no século XIII a.C; ele conta histórias do século XIX a.C., que falam
sobre Abraão e seu chamado por Deus e de todos os patriarcas que vieram antes dele.
Algo em torno de 1320 até 1280 a.C. foi a época em que Moisés escreveu os seus livros
– do Êxodo do povo saindo do Egito, até à entrada na terra de Canaã. Como Moisés não
entrou este ano (1280 a.C.) é o período limite para que ele tivesse escrito os seus livros.
Neemias, com sua missão reformadora, já no ano 434 a.C., acompanhado das profecias
de Malaquias encerra a história do AT, dando um total arredondado de 800 anos para os
escritos aparecerem na forma original.
Depois deste período de Neemias e Malaquias, acontece o que chamamos de Período
Interbíblico (ou Período Intertestamental = entre os dois testamentos), onde há um
silêncio profético de cerca de 400 anos – tempo esse onde os acontecimentos podem ser
acompanhados em livros que fazem parte da tradição histórica da época de Israel ou de
outros povos. Passados estes anos de silêncio, vem a Plenitude dos Tempos, onde Jesus
nasce encarnado homem. A partir daí temos a vida e ministério de Jesus que começam a
ser retratados depois de sua morte e ressurreição – começando pelo livro de Tiago indo
até o Evangelho de João, já no final da era apostólica. Enquanto o AT levou algo em
torno de 800 anos para ser formado o NT aparece dentro do período da Igreja Primitiva,
em apenas 50 anos de escritos. Dos primórdios no AT até o final do NT chegamos a
possivelmente 2000 anos de escritos que perfazem a Bíblia como nós a conhecemos
hoje em dia.
Toda a formação do AT passa, logicamente, pela formação do povo de Israel, e como
não deixaria de ser pela família formada em Abraão.
Abraão aparece na história da humanidade por volta do segundo século a.C. (2040 a.C.,
segundo Joseph Angus, em História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, Apêndice I, pág
328).
“O nome ‘Abraão’ (Abamram) aparece em textos babilônicos da Primeira Dinastia e
possivelmente nos textos das Execrações, enquanto que nomes contendo os mesmos
componentes são encontrados em Mari” (J Bright – História de Israel, página 96 –
Antecedentes e primórdios – Os patriarcas).
Estas citações são importantes, pois situam Abraão e a história bíblica a seu respeito
dentro do contexto da história de outros povos, dando-nos uma data possível para o seu
nascimento, posto que a Bíblia não trata deste assunto, pois não se preocupa em provar,
mas em explanar sobre o acontecido.
Dentro deste aspecto, iremos ver agora um pouco da formação do povo de Israel, suas
origens, influências culturais, literárias e religiosas.
CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
O processo de canonização de qualquer coleção de Livros Sagrados precisa de séculos
para ser completado, é uma tarefa árdua e difícil. Pressupor que a Canonização é uma
atividade apenas humana que determinaria o que foi ou não escrito do que Deus quis é
deixar de lado toda a preservação do texto Bíblico que Deus fez durante os séculos que
se passaram desde o começo dos escritos – é deixar de lado a ação do Espírito Santo.
O processo é longo, o processo é penoso, o processo tem que ser guiado por Deus e
permitido pelo próprio Senhor, o homem, em sua pesquisa, conhecimento e processo de
desenvolvimento histórico, lingüístico e cultural, influencia muito em todo o processo.
No Antigo Testamento, os livros apócrifos foram rejeitados ou aceitos de acordo com
regiões ou influências pelos anos sem fim, indo atravessar os dias do neotestamentários
e sendo resolvidos somente na época da Reforma Protestante.
A disputa pelos livros canônicos e os apócrifos, que com o tempo tentaram incorporálos
à Bíblia parte de dois pressupostos: um, os extremamente liberais, que partem do
não acreditar em quase nada e, portanto os colocam bem ao lado de outros livros da
Bíblia; de outro lado os conservadores extremados que nem sequer mencionariam os
livros para lê-los em seu importante informe histórico.
O melhor a adotar é uma posição mediana – ou seja, analisando friamente, em nenhum
lugar da Bíblia encontra-se uma lista dos livros canônicos e isso nos diz que teremos,
depois de acuradas investigações, o elemento da FÉ para decidir o que fazer. Deus
esteve no processo de formação da palavra assim como esteve na sua preservação e
também no processo histórico que se formou por séculos para decidir que livros seriam
colocados como canônicos, quer no Antigo ou Novo Testamento.
A LEI
O processo histórico do Cânon pode ser descrito como iniciado em 621 a.C., quando
Josias estabelece uma reforma em Israel, quando foi encontrado o Livro de
Deuteronômio que se tornou o livro base para tal reforma. Os incidentes escritos em
Gênesis exigem um conhecimento de causa muito grande e realmente devem ter sido
baseados em documentos escritos e cuidadosamente preparados. No livro do Êxodo, 75
vezes diz: “Disse o Senhor a Moisés”, mostrando que estes livros estão baseados na
vontade revelada do Senhor e que Moisés foi para quem foi feita a revelação. Em todo o
Antigo Testamento e Novo Testamento consideram Moisés como autor dos cinco
primeiros livros da Bíblia (o Pentateuco); só em Josué é mencionado 56 vezes e a lei
escrita é referida por 4 vezes no livro.
“A questão da autoridade mosaica do Pentateuco é importante por ter sido ele uma
grande e bem reconhecida figura espiritual, pelo que, o que ele escreveu deve ser
respeitado como divinamente inspirado. É nesse ponto que encontramos a primeira
evidência de canonicidade”
OS PROFETAS
Evidências históricas nos mostram que entre 250 e 175 a.C os profetas posteriores e
anteriores eram considerados Escritos Sagrados. Isso inclui os livros de Josué, Juízes,
Samuel e Reis (como profetas anteriores); Isaias, Jeremias e Ezequiel como profetas
posteriores e os doze profetas menores. Os escritos dos profetas se distinguiam tanto
que não demorava muito para que fossem considerados autoritários (inspirados por
Deus, com autoridade de Deus). Em quase todos vemos sempre a fórmula: “Assim disse
o Senhor”.
OS ESCRITOS
Os Salmos, Provérbios, Jô e os cinco rolos: Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e
Ester (que eram usados nas festas de Israel). Há também os livros de Daniel, Esdras,
Neemias, Crônicas. Destes livros o de Ester e Lamentações foram os últimos a serem
considerados como canônicos, talvez por volta de 160 a 105 a.C.
Pode ser bem provável que Josefo (historiados dos hebreus) tenha falado sobre algo que
era opinião antiga de que o cânon do Antigo Testamento tenha sido considerado
fechado por volta de 465-425 a.C., nos tempos de Ataxerxes, na época de Esdras. Com
a tradução dos Setenta (LXX – Septuaginta – por volta de 285-246 a.C., durante o
reinado de Ptolomeu Filadelfo) alguns livros foram acrescentados à lista de “sagrados”
os livros de Cantares, Eclesiastes e Ester foram os que permaneceram mais tempo como
disputados – se deveriam ou não ser considerados sagrados – e até o Sínodo de Jamnia,
em 90 d.C., alguns rabinos ainda não aceitavam o livro de Ester, talvez porque o nome
de Deus não é mencionado nenhuma vez em todo o livro.
O Cânon palestino é o que chamamos de Cânon Hebraico e o Cânon alexandrino é
justamente o que resultou na tradução da LXX – Septuaginta. Os protestantes seguem
estritamente o cânon palestino (hebraico) e os católicos, através da decisão do concílio
de Trento, ao tempo da reforma protestante, adota o cânon alexandrino, com os
apócrifos.
DESENVOLVIMENTO DOS LIVROS APÓCRIFOS
O termo APÓCRIFO vem do grego apokrufe que quer dizer “oculto”, “secreto”,
“misterioso”. No início da Igreja Cristã, o termo era usado para designar livros de
autoria incerta, ou escritos sob pseudônimos (apelidos ou nomes para esconder o
verdadeiro nome do autor ou mesmo para se passar pelo autor mais famoso) e aqueles
livros que também tinham a sua autoridade canônica contestada, ou seja, eram
duvidosos de serem ou não canônicos.
O termo pode ser aplicado também a citações que estão na Bíblia, como no caso de
Jerônimo que achava que Ef 5.14 (“Levanta oh tu que dormes, levanta de entre os
mortos e Cristo te iluminará”) eram a citação de um profeta desconhecido e assim era
por ele considerada uma fala apócrifa. O termo apócrifo veio a tomar o sentido de
espúrio ou mesmo de herético, mas no século V, assim como até hoje a palavra era
largamente usada para designar os livros que não eram canônicos.
Os saduceus aceitavam apenas os livros de Moisés como canônicos. Os fariseus
palestinos aceitavam o Antigo Testamento conforme existe hoje na Bíblia Protestante;
já os judeus helenistas aceitavam os livros apócrifos, como hoje encontramos na Bíblia
Católica. A LXX (Septuaginta) sempre incluiu os livros apócrifos. Podemos dizer que
até o século IV os cristãos tinham em alta conta os livros não canônicos acrescidos na
tradução dos Setenta. Jerônimo, no ano de 400 d.C. lhes conferiu uma classificação
inferior aos demais, separados, por ocasião da Reforma eles foram rebaixados para a
classe de livros comuns (não-sagradas), segundo a Confissão de Fé de Westiminster ou
até dizendo que eram úteis, com ensinos morais, história, alegóricos e espirituais, mas
sem ser uma base doutrinária para a Igreja.
No Concílio de Trento, em 1548, a Igreja católica oficializa os livros apócrifos como
canônicos e apesar de Jerônimo tê-los deixado de fora da Vulgata os insere, para leitura
e utilização na Igreja. Deixaram de fora apenas os livros de I e II Esdras e a Oração de
Manasses. A Igreja Anglicana segue o cânon apócrifo desde o Concílio de Trulan em
692 d.C.
Abaixo uma descrição cronológica dos livros apócrifos do Antigo Testamento:
Aikar – 250 a.C
Tobias – 220 a.C.
Adições a Ester – 181-145 a.C.
Judite – 180-100 a.C
Sabedoria de Jesus Ben Sirac (Eclesiástico) – 180 a.C.
Testamento dos 12 patriarcas – 180 a.C.
I Baruque – 150 a.C.
I Esdras – antes de 100 a.C.
I Enoque – 183 a.C.
Manual de Disciplina – 100 a.C.
Cântico dos três Jovens – 150 a.C.
I Macabeus – 105 a.C.
Guerra dos filhos da Luz e Trevas – 100 a.C.
Fragmentos Sadoquitas – 105 a.C.
II Macabeus – 100 a.C.
Oráculos sibilinos III – 100 a.C.
Salmos da seita de Qumran - 100 a.C.

Susana – 80-50 a.C.
Epístola de Jeremias – 80-50 a.C.
Bel e o Dragão – 80-50 a.C.
Carta de Aristéias – 80-50 a.C.
Vida dos Profetas – 40 a.C.
Comentário sobre Habacuque 1.2 – 40 a.C.
Salmos de Salomão – 40 a.C.
III Macabeus – 50 a.C. – 50 d.C.
IV Macabeus – 50 a.C – 70 d.C.
Sabedoria de Salomão – 50 a.C – 10 d.C.
Assunção de Moisés – 4. a.C – 28 d.C.
Martírio de Isaías – 1 d.C.
Oração de Manasses – 1 d.C.
Crônicas de Jeremias – 1-66 d.C
Vida de Adão e Eva – 1-66 d.C.
Apocalipse de Moisés – 1-66 d.C.
II Baruque – 1-66 d.C.
Ditos dos Pais – 10-100 d.C.
II Enoque – 66 d.C.
II Esdras – 88 -117 d.C.
Apocalipse de Abraão – 100 d.C.
III Baruque – 100 d.C.
“O mais antigo e decisivo testemunho é o do historiador judeu Flávio Josefo, que cerca
do ano 90 d.C. escreve o seguinte: ‘Porque nós não temos (isto é, como os gregos)
miríades de livros discordantes e contraditórios entre si, mas apenas vinte e dois...
juntamente aceitos. Cinco são os livros de Moisés, que compreendem as leis e as
tradições da origem da humanidade até a morte dele. Os profetas que foram depois de
Moisés escreveram em treze livros o que sucedera no tempo em que viveram. Os quatro
livros restantes encerram hinos a Deus e preceitos para a conduta do homem’. O grupo
dos vinte e dois livros está provavelmente disposto justamente como o temos hoje na
Bíblia sem os apócrifos, na Bíblia protestante que segue o cânon hebraico ou
palestino... O testemunho de Josefo é impressionante porque ele escreve para em grego
para os gregos. Estes e ele conheciam muito bem a LXX (Septuaginta), mas escrevendo
ele, como porta-voz da sua nação, limita formalmente o Cânon do Antigo Testamento
aos escritos contidos nas Escrituras hebraicas” (Joseph Angus – História, Doutrina e
Interpretação da Bíblia – Casa Publicadora Batista – 1951 – Primeiro Volume –
Capítulo II – O Velho Testamento: Língua, Cânon, etc – páginas 14 e 15).
CULTURA E LITERATURA
LÍNGUA - A língua Hebraica foi a língua dos hebreus; o qualificativo hebraico ao se
referir à língua dos hebreus ocorre em primeiro lugar no livro apócrifo de Eclesiástico
(de cerca de 130 a.C.). Josefo se utiliza da expressão “língua dos hebreus” (glossa ton
hebraion) a respeito do antigo hebraico. Os Targuns (paráfrases judaicas dos livros do
Antigo Testamento) chama ao hebraico de “a língua sagrada”.
A língua hebraica era a língua comum de Canaã e da Fenícia. Isso é indicado pelos
monumentos que temos dos dialetos cananitas – principalmente o comentário sobre as
tábuas de Tel el Amarna (século XV a.C.).
Podemos considerar o hebraico como sendo o dialeto israelita da língua Cananéia, mas
Israel estava cercado de povos que falavam o Aramaico, uma língua correlata, a língua
de Aram que era um território que abrangia parte da Mesopotâmia, Síria e uma extensa
porção de Arábia. Com a queda de Samaria (722 a.C.) as tribos semíticas que falavam o
aramaico influenciaram mais ainda, sendo que o hebraico começou a decair como
língua até se extinguir como língua falada. No tempo de Neemias ainda era a língua
falada em Jerusalém (Nm 13.24), cerca de 430 a.C., mas muito tempo antes de Cristo a
língua franca falada na região era o aramaico e literatura em hebraico era apenas para os
eruditos.
O aramaico se propagou e era a língua falada por Cristo e seus apóstolos. Alguns
trechos do antigo testamento ainda estão escritos em aramaico – Esdras 4.8 a 6.18; 7.12-
16 e Daniel 2.4 a 7.28 e também os Targuns também estão em aramaico.
O siríaco – uma versão do aramaico de Edessa, na Mesopotâmia também é importante
nesse processo todo, tem inclusive importantes versões siríacas do Novo Testamento.
O árabe, que também é uma língua semítica, é a que possui a mais vasta e rica literatura
depois do hebraico. O árabe moderno difere do antigo nas suas formas; de um dialeto
árabe, o himiarítico, deriva-se o etiópico.
Todas as línguas semíticas são de grande importância para o estudante do Antigo
Testamento e nenhum dicionário hebraico se pode considerar satisfatório se não fizer
menção ou mesmo referências constantes à significação dos termos em suas raízes na
palavra hebraica nas línguas cognatas.
O hebraico passou por modificações durante o período em que foi escrito o Antigo
Testamento. Tem sido feitas tentativas para determinar estas modificações, mas sem
muito sucesso, pois o material para estudar certos períodos é incerto, principalmente
para se ligar certos livros a certos períodos da história.
TRADIÇÃO ORAL e LITERATURA – em 1477 d.C., com o surgimento da imprensa
foi feita a primeira impressão da Bíblia Hebraica: o Livros dos Salmos. Em 1488
achava-se completa a impressão de toda a Bíblia Hebraica. O que precedeu todos os
textos impressos que temos, inclusive este feito em 1477 e 1488 são os manuscritos
(MSS) que precederam. Há nos MSS hebraicos e em nossas Bíblias, curiosas indicações
sobre a fidelidade com que era produzido. Aparecem certas marcas, que não se
entendem, talvez feitas por erro ao manusear a pena que são copiados fielmente em cada
cópia.
Por volta do ano 800 d.C, os massoretas inventaram o sistema de acentuação, cadência
para leitura e exata recitação nas sinagogas, pronúncia e exata conexão entre palavras –
escritos em um corpo de tradições – a Massora – colecionados e transmitidos por eles –
o texto chama-se massorético. Existem enormes coleções massoréticas que tratam de
assuntos como números de palavras, números de letras de cada versículo etc. Estes
homens fizeram um grande trabalho ao preservar o texto do Antigo Testamento.
A tradição oral, até o texto ser escrito, é digna de nota posto que se leva em conta que o
povo oriental possui memória extraordinária, podendo guarda de cor trechos enormes e
reproduzi-los com exatidão anos mais tarde. Entre a narrativa transmitida oralmente e os
escritos não deve ter havido diferenças essenciais, a menos que algum autor tenha as
colocado intencionalmente em função dos seus próprios objetivos. Vejam que em Nm
21, 27 havia cantores de sátira, que propagavam as tradições orais; homens e mulheres
que recitavam cânticos fúnebres e transmitiam a outros o seu conhecimento (Jr 9.16 e
Am 5.16).
Devemos admitir que em Israel houve um longo período de tradição oral antes da
escrita. Isso vale pelo menos para partes das histórias dos livros mais antigos (Gênesis-
Josué) e para antigos Cânticos e Provérbios. Inicialmente transmitidos de lugar para
lugar, tribo para tribo e de geração para geração. Entretanto, desde tempos remotos,
juntamente com a tradição oral havia uma tradição escrita, que era a forma de tradição
para os textos jurídicos, listas e documentos.
Os escritos proféticos provavelmente foram transpostos para a escrita pouco tempo
depois de suas pregações, transmitindo oralmente o que Deus queria dizer ao povo.
A PROSA
O que vemos de particularidades nos escritos da prosa antiga, são muitas vezes “o
resultado de um processo longo de transmissão e reelaboração, cujos estágios
individuais deixaram seus vestígios, desde a fase de gestação, na tradição oral – caso a
mesma exista ao princípio – até a fase de redação e mesmo até aos acréscimos
posteriores e às glossas”. Determinar como é o escrito, ou o que é escrito de outro ou de
uma tradição oral é difícil. É certo que muitas vezes nos escritos os autores incorporam
material mais antigo, mas é um tanto difícil fazer distinção entre ambos. No livro dos
Reis, por exemplo, nota-se certa citação referindo-se aos livros das crônicas dos reis;
isso nos leva a pensar que o escrito atual, na prosa, é o resultado de uma junção de
escritos mais antigos – feito em extrato – com a tendência teológica do autor.
“O caráter realista e concreto do temperamento israelita corresponde a maneira viva,
imaginosa e impressionista de descrever as coisas e que trabalha de preferência com
comparações, vendo os fatos que se passam no interior do homem como eu refletidos no
seu comportamento exterior e fixando cada uma das cenas de um determinado
acontecimento como em quadros parciais que figuram uns ao lado dos outros.
Precisamente por isso é que se consegue introduzir, numa alternância inesperada, a
mudança completa nas disposições internas, passando da cólera súbita para o autoapaziguamento,
ou da magnanidade ao desejo de morte, que brota da alma apaixonada
do israelita”
RECURSOS ESTILÍSTICOS – uma das particularidades é a INVERSÃO, que consiste
no desvio da seqüência verbal – pode servir para indicar algo determinado, colocado no
texto, pode ser usado como mnemônica ou processo de ênfase, num recurso literárioartístico.
Outro recurso é a repetição de palavras dando a elas importância para
descrever situações – exemplos: Gn 22, 6-8 (expressão meu filho); II Sm 11.17; 21-24.
Pode-se repetir omitindo a princípio o todo para depois dar ênfase no notável ou
misterioso – como em Gn 20. 4 e 18. Outro recursos seria a introdução de discursos na
narrativa, com intuito de impulsionar, acalmar ou protelar a ação. Como no livro de Jó.
A POESIA
“No grego, devemos considerar o termos poietés, ‘fazedor’, ‘realizador’. No sentido
literário, um poeta é alguém que exprime as suas idéias mediante imagens verbais,
metáforas e outros artifícios literários. Um poeta prima pela brevidade de expressão,
em conjunção com expressões claras e eloqüência. Os melhores poetas são indivíduos
criativos, que são capazes de manipular a linguagem de maneira reveladora (...) A
poesia em sido comumente usada como expressão tanto secular como religiosa (...) A
poesia ocupa importante papel no Antigo Testamento”
Artifícios poéticos
Linguagem figurada – o hebraico é dado a poesia, por seu
ritmo, sobre sua forma e expressão verbal – a linguagem
figurada é uma das importantes características na poesia do
Antigo Testamento e pode ser vista nos Salmos, onde usa-se
muito personificações, metáforas, símiles, metonímia etc para
expressar o que se quer. Em Jó vemos em certas porções a
poesia incrustada ali; no cântico de Moisés (Ex 15.1 ss); no
cântico de Débora (Jz 5.1 ss).
Paralelismo – pode ser uma repetição de idéias, usando-se
sinônimos (Sl 49.1; Sl 104); pode ser quando uma frase é
colocada depois da outra para mostrar ou reiterar a primeira
idéia (Sl 55.6) mesmo que seja levemente diferente
(sintético); pode ser um contraste (Sl 1.6) com a idéia
expressada anteriormente (antitético); ainda quando a
segunda linha amplia (Sl 55.12, 13) a idéia contida na
primeira (climático); ou mesmo quando uma linha é seguida
por outras (Sl 45.1) com diferentes tipos de paralelismo
(binósfico).
Ritmo – não é um ritmo como os gregos usam, contando as
sílabas, medindo mesmo as palavras, mas sim na entonação –
a acentuação das palavras poderia ditar o ritmo ao se ler,
porém os hebreus não possuíam regras rígidas a este respeito.
Música – o fato de muitos dos Salmos terem sido musicados
não significa que todos o eram. Os gregos tinham por
finalidade que sua poesia fosse entoada. Havia cânticos em
outras partes, que não eram necessariamente músicas
religiosas – “como em Nm 21.17,18 que se refere ao um
‘cântico do poço’ – que parece ter sido uma espécie de coro,
empregado pelos cavadores de poços para se encorajarem
enquanto ocupados em um trabalho árduo como esse” .
CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. O Cânon do Antigo Testamento é resultado dum acrescentamento gradual.
Não foi a autoridade eclesiástica que o criou, mas sim foi sancionado pelo uso sagrado
que já vinha sendo feito até a data – ou seja, considerar livros canônicos de uma forma
geral é reconhecê-los como divinos por causa da utilização no meio do povo de Deus.
2. Não confundir o princípio do Cânon com o princípio da literatura sagrada
hebraica. Estes outros se conservaram sem classificação, quando somente a partir de um
tempo começou-se a fazer uma seleção, que havia de dar origem ao Cânon das
Escrituras.
3. Um livro pode ter tido uma grande história literária antes de sua admissão no
Cânon.
FORMAÇÃO CULTURAL DO POVO
A Palestina, em virtude da natureza do seu terreno, não é uma região de povoamento
isolado, ou seja, homogênea e fechada, formada por planícies costeiras e regiões
montanhas perto do Jordão, além de depressões jordânicas e por estar recortada em
vales, planícies e patamares altiplanos, favoreceu o desenvolvimento do país por
setores, provocando uma tensão chamada sociológica, acarretando o desenvolvimento
em blocos dos moradores agrupados de cada lugar, com suas próprias características. É
ponto também estratégico no caminho entre o Egito e o Oriente, entre a Mesopotâmia e
o mar, ligando a África à Ásia, Mesopotâmia e o Egito, por isso mesmo se viu colocada
no meio de disputas que entre estes povos aconteceram durante séculos. Os hicsos,
predominantemente habitantes de cidades-reino, permaneceram até o reinado de Davi e
Salomão como fator preponderante na formação histórica. Os cananeus influenciaram
Israel mais do que os dominadores filisteus – aqueles se fundindo à cultura Israelense,
influenciando na língua, na cultura, na religião. Os seminômades hebreus necessitaram
adaptar-se à cultura agrícola, principalmente habitando primariamente nas regiões
montanhosas.
Olhando para tudo isso, toda essa mistura, é de admirar que no surja uma cultura
bastante homogênea como a cultural de Israel, sendo que o fator religioso, o que é
chamado de “Fé Javista” (fé em Javé que os tirou do Egito e os fez entrar na terra da
promessa), foi o fator preponderante para manter intacto este povo, dentro de tantas
influências, sem sucumbir e tornar-se algo diferente do que foi ‘projetado’ a princípio.
Os hebreus se mantêm relativamente incólumes dentro de Canaã, em grande parte pela
fé em Deus (Javé) e este fator religioso foi determinante para a hegemonia do povo,
indo influenciar na formação do povo de maneira decisiva, em sua consciência como
nação, como povo.
Os mais antigos aldeamentos que conhecemos e que são de forma permanente são por
volta do oitavo ou sétimo milênio a.C. e pressupõe o fim da Idade da Pedra (período
designado cientificamente). Nestes aldeamentos, os homens viviam em cavernas, que
são comprovados por esqueletos encontrados em cavernas na Palestina e viviam de caça
e pilhagem (caçando animais para comida – sem cria-los e colhendo o que dava as
árvores, sementes e raízes, mas sem plantar nada).
Nesta época, através da cultura natufiana da Palestina (assim chamada em virtude de
que foi encontrada pela primeira vez nas cavernas de Wadi en-Natuf), depois de um
período glacial (muito gelo) passando para um clima mais quente o homem começou a
dar os primeiros passos na produção de alimentos, descobrindo que grãos poderiam ser
plantados e rebanhos poderiam ser criados para lhe fornecer alimentos e agasalhos.
Dos aldeamentos mais antigos, o que é melhor para o estudante da Bíblia é justamente o
de Jericó (a Jericó natufiana data de pelo menos 8.000 a. C) e que é encontrada no
níveis mais baixos da colina de Jericó, aterrada pelo tempo, pelo desmoronamento, pela
construção de outra cidade milhares de anos depois. Jericó desta época durou
aproximadamente 2.000 anos como cidade, em dois períodos distintos: antes e depois da
invenção da louça de barro. A construção da cidade já era fortificada com pedra (muros)
e as casas construídas por tijolos (dois tipos distintos, correspondendo às duas fases
anteriormente citadas).
Estátuas de argila, com figuras femininas e animais domésticos sugerem culto à
fertilidade (uma tentativa insípida de procriar o “filho que pisaria a cabeça da serpente”)
que desde muito cedo nestas e outras culturas aparecem, junto com uma forma de
adoração cultual do que chamamos de tríade antiga, a “divina família”, onde se
representam o pai, a mãe e filho – talvez numa referência aos primeiros pais, como
sendo “divinos” ao terem sido criados diretamente das mãos de Deus. Os esqueletos
sepultados embaixo dos pisos das casas indicam culto ou pelo menos veneração
ancestral; ossos de cães, cabras, porcos, ovelhas e bois indicam que estes animais já
eram domesticados e foices, moinhos de mão e os rebolos atestam o cultivo de lavouras
de cereais. Pelo tamanho da cidade e da escassez de terra fértil ao redor, pressupõe-se
que havia um sistema de irrigação bem desenvolvido e a presença de instrumentos da
região da Anatólia, do Sinai e do litoral indicam intercâmbio comercial. Um grande
argumento afirma que o comércio de sal, enxofre e betume (todos muito abundantes na
área do Mar Morto) foram realmente a base da economia de Jericó (cf ANATTI e
ALBRIGHT citados por J Bright – História de Israel, pg 20, Prólogo – O Antigo
Oriente antes do ano 2.000 a.C.). Tudo isso, incrivelmente, sendo desenvolvido por
mais de 5.000 anos antes de Abraão!
Outras culturas neolíticas (perto já do sexto milênio) são encontradas também em
diversas regiões do mundo: Jarmo (região montanhosa da Mesopotâmia = terra entre
dois rios, o Eufrates e o Tigre, atualmente norte do Iraque); Ras Shamra, na costa do
Mediterrâneo; Beida, na Transjordânia, Palestina; Haçilar e Çatal Hüyük na Anatólia
(Oriente Próximo); Byblos também no Mediterrâneo; Mersin e Tell Ej-Judeideh na Síria
e Khirokitia no Chipre, como culturas de atividades produtores de alimentos,
comerciais, com abundante material para análise em escavações nas regiões citadas.
Nesta época Nínive é construída pela primeira vez e a cultura Hassuna floresce na
Mesopotâmia. No Egito também são encontrados traços da cultura sedentária que leva o
homem para os aldeamentos deixando de lado apenas a caça e a pilhagem. A cultura de
aldeia mais antiga que temos conhecimento no Egito é Fayum, seguida por outra
descoberta mais tarde com o nome de Merimde, onde por mais tarde que possam ser
colocadas estas aldeias (talvez por volta de 5.000 a.C., ainda assim são 2.500 anos antes
de Abraão!!!).
Os Sumérios – que foram os criadores da cultura Obeid que é a civilização da Baixa
Mesopotâmia. Os monumentos pintam-nos como imberbes, musculosos e de cabeça
muito grande. Falavam uma língua aglutinante e foram eles que introduziram a escrita –
os textos mais antigos que temos em mãos estão escritos em sumério.
O Egito e a Palestina no quarto milênio – Neste período parece-nos que a Palestina
dividiu-se em duas províncias culturais, uma ao norte, abrangendo também as áreas
centrais e outra mais ao sul. Faziam instrumentos de pedra e cobre; a cerâmica mostra
muita perfeição; as casas eram construídas de tijolos feitos a mão, muitas vezes com
alicerces de pedra; desenhos e máscaras mostram algo em torno do culto com deuses
sentados em roda e os mortos eram enterrados com alimentos e utensílios provando que
havia uma crença numa vida futura.
No Egito, a cultura pode ser dividida nesta época em badariana, amratiana e gerzeana
que tiram suas denominações dos lugares onde são identificadas. O florescimento da
cultura egípcia, com grandes construções e realizações veio depois. Os egípcios tiveram
antepassados misturados entre linhagens hamítima, semítica e negróide, esta última
especialmente no sul do Egito. Usava o cobre e neste período começou a exploração das
minas de cobre no Sinai. Nesta época foi inventada a escrita, como na Mesopotâmia,
porém, não cuneiforme, mas em forma de hieróglifo. O Egito estava em contato com a
cultura protoliterária da Mesopotâmia e beneficiou-se dela grandemente, além de
realizar comércio com Byblos (porto de transporte de cedros).
O Oriente Antigo no Terceiro Milênio a.C. – nesta época, podendo ser documentada
pela escrita, a história passa a existir propriamente dita e tudo isso a partir dos
documentos mesopotâmicos. Na Idade Clássica sumeriana a terra era organizada em
sistema de cidades-estados, mas não existia uma unificação permanente e total da terra.
Este foi um tempo de relativa paz, posto que as guerras eram esporádicas e localizadas e
assim a vida econômica e o comércio puderam se desenvolver. Em volta dos templos
(numerosos por sinal) as escolas de escrita eram estabelecidas e produziam literatura
abundante, narrações de feitos épicos e lendas que eram transmitidas oralmente nos
séculos anteriores.
A religião sumeriana era um politeísmo altamente desenvolvido e o chefe deste panteão
de deuses era Enlil, senhor da tempestade. Os sumérios tinham um alto sendo de certo e
errado e as leis aplicadas na terra eram para eles um reflexo das leis divinas.
Os acádios, que são os semitas na Mesopotâmia (conhecidos como acádios por causa da
sede do seu primeiro império – Akkad), eram seminômades e não há evidência de
conflitos raciais com os sumérios, ao contrário, podemos supor que houve uma grande
miscigenação de raças. O primeiro verdadeiro império do mundo foi o Império de
Akkad (2360-2180 a.C.). Seu fundador foi Sargão, submeteu toda a Suméria até o Golfo
Pérsico. Seus dois filhos o sucederam, bem como um neto seu – Naramsin, que era
bravo como Sargão, seu avô. Dominaram toda a Alta Mesopotâmia além da Suméria.
Naramsin conquistou Magan (nome do Egito) e também entrou em negociações com
Meluhha (Núbia) e seus domínios chegaram até o vale do rio Indo. As tradições
informam que o poder do império derivava de Enlil, o rei dos deuses.
O Egito floresce com o aparecimento da Terceira Dinastia (2.600 a.C.). Foi a idade das
pirâmides. A mais antiga, a Pirâmide dos Degraus, construída por Zoser, fundador da
Terceira Dinastia, foi construída em Mênfis para ser um templo mortuário e se constitui
na mais antiga construção de pedra lavrada que se conhece até hoje. As Pirâmides de
Quéops, Quéfrem e Miquerinos, da Quarta Dinastia, também construídas em Mênfis. A
Grande Pirâmide tem 147 metros de altura, tem uma base quadrada de 217 metros e foi
utilizada em sua construção nada menos que 2.300.000 blocos de pedra lavrada, com
um peso médio de duas toneladas e meia cada. Foram transportados através de força dos
braços, sem emprego de nenhuma máquina e com uma margem de erro praticamente
nula (de acordo com J A Wilson em The Burden Of Egypt, The University of Chicago
Press, 1951, pp 54 ss o erro não chega a 0,09 % quanto à quadratura e o desvio do nível
é menos de 0,004 %).
O faraó, no Egito, não era apenas um rei, ou um vice-rei que governava sob eleição
divina, ele era considerado deus. “Era Horus visível entre os homens, entre seu povo” (J
Bright, História de Israel, pg 39, Prólogo, O Antigo Oriente antes do anos 2.000 a.C.).
Na Palestina do quarto milênio, o urbanismo desenvolve-se grandemente e as cidades
que conhecemos (pelos textos de Ras Shamra) são predominantemente semíticas, bem
fortificadas, como indicam as escavações de Jericó (reconstruída depois de um longo
período de abandono), Megido e Ai. Os habitantes da Palestina na época eram
praticamente canaanitas e o hebraico era um dialeto de sua língua.
Na Mesopotâmia acontece a queda de Akkad pelos guti, um povo bárbaro, mas era um
poder fraco, dos guti, apesar de demorar mais de 100 anos, e foi vencido por um rei de
Erech que fundou Ur. Os sumérios e os semitas estavam completamente misturados.
Este é o tempo de nascimento de Israel – com Abraão, que nasce num mundo já antigo,
com cultura, comércio, economia, língua, escrita, religião já desenvolvidos.
Enquanto o Egito passava por crises (depois de mil anos de crescimento) a Palestina era
invadida por nômades que destruíram todas as grandes cidades, com horrível violência.
Eram partes de um grupo de nômades semitas do Nordeste da Mesopotâmia, conhecidos
como amoritas. Entre estes invasores podemos discernir clãs inteiros que
identificaríamos certamente com Abraão, Isaac e Jacó.
Sabemos bem que Israel não era de “origem indígena na Palestina, mas sim tinha vindo
de alguma parte e tinha consciência disso. Através de um repositório de tradições
sagradas, inteiramente sem paralelo no mundo antigo, Israel lembrava-se da conquista
que ele fizera de sua terra, da longa peregrinação através do deserto para chegar a ela
e das maravilhosas experiências que tivera, e antes de tudo isso, dos anos de
escravidão no Egito; também se lembrava como, em séculos mais recuados ainda, os
seus antepassados tinham vindo da Mesopotâmia, peregrinando até a terra que agora
eles chamavam de sua” (J Bright – História de Israel, pg 52, Antecedentes e Primórdios,
O mundo das origens de Israel).
Entre 2.000 e 1750 a.C., o poder de Ur sobre a Mesopotâmia acaba sem deixar sucessor.
À medida que enfraquecia como poder central, outros independentes ganhavam
destaque, como Elam, Asshur (Assíria) no Alto Tigre e Mari no Médio Eufrates.
Mari foi uma cidade importante da Mesopotâmia durante todo o terceiro milênio (3000
a 2000 a.C.) e sua população foi predominantemente semítica (descendentes de Sem) do
noroeste (chamados de amoritas). Os amoritas, ascendentes do povo de Israel, eram
“habitantes de tendas”, seminômades, segundo a lista dos mais antigos reis assírios –
(“Lista de Reis Khorasabad”, A. Proebel (1942), pág. 247-306, 460-492 e J Gelb (1954)
pág. 209-230).
A Primeira Dinastia Babilônica pressupõe o ano de 1830 a.C. onde foi estabelecida a
Babilônia I, pois Sumu-abum, aproveitando a confusão da época em torno de Ur, na
Baixa Mesopotâmia, estabelece o seu reinado a partir de Babilônia, cidade da qual até
então pouco se tinha ouvido (segundo J Bright em História de Israel, pág. 55 –
Antecedentes e primórdios – O mundo das origens de Israel).
Os mais antigos reis Assírios eram “habitantes de tendas”, isto é seminômades, semitas
do noroeste.
Os povos que foram para a Palestina, nômades semitas do noroeste não trouxeram
mudança significativa fundamental nenhuma para a terra canaanita, pois eram da mesma
origem semítica do noroeste.
O Egito nesta época desmoronava e na luta pelo poder na Mesopotâmia, o grande
Hammurabi triunfa. Além de grandes vitórias sobre Mari e Assíria, Hammurabi realizou
um grande florescimento cultural, além de legal, com o seu código de leis que publicou
no final de seu reinado. Era uma compilação de tradições orais do passado (do terceiro
milênio) em muito semelhante ao Código de Leis do Êxodo da Bíblia e que certamente
vieram da mesma fonte.
Enquanto isso, os hicsos infiltraram-se por todo o Egito – o termo hicsos significa
“chefes estrangeiros” que provavelmente eram de origem noroeste-semítica. Eles
adoravam os deuses canaanitas ou amoritas e seu deus principal era Ba‘al. Por volta de
1540 a.C. os invasores hicsos foram expulsos do Egito por Amosis, fundador da Décima
Oitava Dinastia, príncipe tebano.
Babilônia não tem a mesma sorte que o Egito e cai pelas mãos dos cassitas e finalmente
dos hititas (1530 a.C.).
Os Patriarcas que formam a história do povo de Israel, a partir do capítulo 12 de
Gênesis, nos dão conta que tinham vindo da Mesopotâmia e que tinham vagueado pela
terra que mais tarde seria deles. Nenhum povo antigo tem mais tradição do que este, em
sua beleza história, literária, teológica, sem paralelo em nenhuma tradição histórica de
povos da antiguidade. A tradição histórica, desde muito tempo não possuía textos que
provavam a existência de Abrão, Isaac ou Jacó que eram considerados, pela história,
como figuras pertencentes a um mito, criado pela tradição antiga de Israel, para dar
consistências às suas crenças, porém, hoje depois, de muitas descobertas arqueológicas
importantes, só temos a provar que a Bíblia sempre teve razão no que afirmou e textos
como os de Mari (1800 a. C), que são em torno de 25.000 textos; milhares de textos
capadócios do décimo nono século; milhares de documentos da primeira dinastia
Babilônica (do décimo nono ao décimo oitavo século); os textos de Nuzi do décimo
quinto século; as placas de Alalakh, do décimo sétimo século e do décimo quinto; as
placas de Ras Shamra (do décimo quarto século aproximadamente, mas contendo
material muito mais antigo); os textos das Execrações e outros documentos do Médio
Império Egípcio (do vigésimo ao décimo oitavo séculos) e muitos outros.
O ambiente histórico das narrativas patriarcais se faz de tal forma histórica, junto às
evidências registradas que nem precisamos comentá-las, mas considerar o assunto como
falado.
No segundo milênio aparecem nomes que se enquadram perfeitamente com o nome dos
patriarcas e são alguns:
Jacó – Ya’qub-el – nome dado a um chefe hicso ocorrendo num texto do século dezoito
de Chagar-bazar na Alta Mesopotâmia e também numa lista (de Thutmosis III) do
século quinze na palestina.
Abraão – Abamram – aparece em textos babilônicos, nos textos das Execrações e em
texto de Mari.
Terah – Til-turakhi – em textos assírios das proximidades de Haran.
Benjamim – banu-yamina (“povos do sul” ou yaminitas) - aparece como sendo uma
grande confederação de tribos.
Zebulon – é encontrado nos Textos das Execrações, como os nomes que têm as mesmas
raízes que os de Gad e Dan são conhecidos em Mari. Levi e Ismael ocorrem em Mari e
os nomes Asher e Issacar são encontrados numa lista Egípcia do décimo oitavo século.
Os antepassados hebreus embora fossem predominantemente semitas do noroeste da
Mesopotâmia, sem dúvida eram uma mistura de muitas raças.
As peregrinações dos patriarcas e seu modo de vida não devem ser confundidos com o
modo de vida dos nômades que peregrinavam em camelos que só aparecem na Bíblia na
época de Gedeão (livro de Juízes). Os patriarcas eram criadores, seminômades, com
roupas multicoloridas, levando seus pertences e filhos de em lombo de burros e os
contratos e tratados eram sempre firmados com a morte de um asno (daí os habitantes
de Siquém serem chamados de “filhos do asno” (benê hamôr), numa referência à
aliança – seu deus era Baal-berith – “Senhor da Aliança”) – como vemos pintados num
túmulo do décimo século em Beni-Hasan, no Egito.
O nome hebreu vem da designação do nome de Heber (Gn 11:14-17) – “ibri” (“do
outro lado”, numa referência ao fato de Abraão – descendente de Heber - como sendo o
pai da raça atravessou nações, vem do outro lado do mundo para a sua terra) e são
achados em diversos documentos durante vários períodos da história antiga na época
dos patriarcas. Hebreu como nome para o povo foi usado principalmente a partir do
Egito. ebreuHeO nome judeu (yehudim – alguém proveniente do estado de Judá) só foi
usado na época do cativeiro Babilônico e assim, pouco a pouco o termo judeu foi usado
para indicar os hebreus e passou então a ser sinônimo de israelita.
Pressupostos culturais
Os hebreus levaram para dentro de sua terra um bojo de civilizações como
Mesopotâmia, Egito e influências diretas de convívio com os cananeus. “Acrescenta-se
a isto o fato de Israel ter-se mantido permanentemente vinculado ao Egito a cuja esfera
de influência cultural e por vezes também política pertencia a Palestina. Por fim, as
potências do Oriente deixaram aí também os seus vestígios, desde os sumérios,
babilônios e assírios até os persas, seja por intermédio das primeiras migrações dos
israelitas seminômades, seja através do cananeu, ou mais tarde por um contato direto”
(Georg Fohrer – Introdução ao Antigo Testamento – Paulinas – 1978 – pg 19 –
Pressupostos da Literatura Israelítica).
Diante disso, poderia chegar-se à conclusão que a cultura Oriental antiga formava um só
bloco como é hoje a cultura Européia. Se olhar para as regiões, veremos claramente as
diferenças culturais, com muitas influências diretas e indiretas umas nas outras, porém,
distinguiremos características, diferenças e contrastes em cada uma delas.
Diante dos fatos é bastante admirável que se tenha formado uma literatura hebraica com
índole própria e bastante homogeneidade, o que novamente nos traz o pensamento que a
fé javista foi fator preponderante, senão decisivo na formação literária do povo hebreu,
e que o manteve isento de materiais de origem Cananéia e estrangeira.
O desenvolvimento cultural na Mesopotâmia ajusta-se ao fato do término da Era
Neolítica (da Pedra) e começa a Era Calcolítica (da pedra e do cobre) que vai do quarto
milênio até os umbrais da história do terceiro milênio. Esse foi um período em que a
cultura mesopotâmia floresceu grandemente. A agricultura desenvolveu-se para atender
a densidade populacional. A drenagem e a irrigação tiveram avanços importantes e à
medida que o comércio e a vida econômica se desenvolviam é que surgiram as mais
antigas cidades-estados. No progresso cultural e artístico tão bem desenvolvido entra
com a criação da escrita (3.300 a. C). A cultura que mais influenciou este período de
ascensão foi a Halaf (que vem desde a última parte do quinto milênio) que recebe este
nome devido ao local onde foi identificada – o vale de Khabûr, no alto rio Tigre. Por
este tempo os valores ribeirinhos da Alta Mesopotâmia eram bastantes povoados.
Deste tempo numerosas estatuetas (de barro) são encontradas em escavações que com
figuras de animais e principalmente de mulheres em posição de parto – o que indica que
provavelmente havia uma veneração ou adoração à “deusa mãe”. Em outros lugares
havia uma adoração específica da deusa mãe da montanha ou deusa da montanha. Em
outros lugares os cultos representados por estatuetas de barro, mostram mulheres de
cócoras, o que indica certo tipo de culto à fertilidade – isso nos remete para longe, no
tempo em que Adão e Eva pecaram e que foi lançado por Deus o fundamento do
evangelho, o nascimento do Messias através da mulher e esse Messias viria para
libertar, para pisar a cabeça da serpente. Através dos séculos que se seguiram houve
uma importância tamanha na procriação justamente porque se pensava sobre o
nascimento do Messias através de algum mulher – era uma verdadeira busca do filho
varão, cultura essa que influenciou todas os povos que conhecemos até hoje, em que se
valoriza mais o varão que a varoa quando nasce e muitas vezes a mulher é simples
objeto, que pode ser comprado e disposto da maneira como quer. Esta presença de culto
à fertilidade, ou culto à deusa mão, retrata muito bem este tipo de presença de
esperança, ainda que de maneira errada, no nascimento do Messias. Era o Messias sendo
esperado por todos os povos da terra!
Uma série de culturas importantes nos leva do final do quinto milênio ao terceiro e
em ordem são: a cultura de Obeid (4.000 até 3.500 a.C.), a de Warka mais ou menos em
3.300 a.C e a de Jemdet Nasr (3.100 até 2.900 a.C.). O período de Warka e Jemdet Nasr
é chamado de protoliterário, pois aqui se dá a invenção da escrita (algo em torno de
3.300 a.C.). O florescimento cultural e o desenvolvimento urbano, por causa de poucas
chuvas que são insuficientes para a continuidade da agricultura e por causa das
enchentes periódicas dominaram a técnica eficiente de irrigação, dos diques e canais
para o desenvolvimento das planícies, há uma profusão de templos em Warka (Erech)
com arquitetura que perdurarão pelos séculos futuros. Utilização de rodas, fornos, cobre
batido e feito em cilindro que se tornam sinetes de grande valor, mas nada influenciou
mais o progresso do que a invenção da escrita. Os textos mais antigos remontam de
inventários e textos de negócios realizados, testemunhando assim a complexidade
cultural e urbana da crescente vida econômica na Mesopotâmia.
Pressupostos literários
Por volta do segundo milênio (a. C) os fenícios desenvolveram uma escrita, adaptando-a
de caracteres cuneiformes (Babilônicos), uma escrita consonantal, que passou a ter
caracteres próprios, vindo daí o alfabeto hebraico antigo e também os gregos adotaram e
modificaram a escrita fenícia, formando o alfabeto grego por volta do século IX a.C.
A língua aramaica (dos arameus) provavelmente origina-se de um dialeto que evoluiu
localmente no leste da Síria ou noroeste da Mesopotâmia nos mostra que os
antepassados de Israel eram do mesmo tronco étnico e lingüístico que os arameus,
portanto não é de estranhar que Israel podia lembrar a sua origem na “planície de Aram”
e falar do seu progenitor como sendo um “arameu errante” (Dt 16:5).
Os israelitas conheciam bem a profusão literária, tanto egípcia quanto babilônica,
profusão esta que não se estendia em grandes tratados históricos, mas em pequenos
feitos literários, porém em abundância. A literatura épica Cananéia forneceu bastante
acervo aos hebreus, mas apesar de tudo isso, prevalece ainda a fé javista fazendo com
que a literatura de Israel fornecesse um pressuposto histórico sem igual, pois, a crença
de que Deus controla o destino das nações é determinante para a formação de um
composto literário rico, único e homogêneo, sem as influências em demasia de textos e
literatura externa.
RELIGIOSIDADE EM ISRAEL E PAÍSES VIZINHOS
Os hebreus desde o começo tiveram uma religião revelada e não uma religião natural
ou filosófica como vemos em muitos povos da antiguidade. A história de Israel sempre
esteve intimamente ligada à vontade de Deus, tudo dependendo das reações do povo de
Israel, em anuência ou desobediência. Até os seus reis são vistos em primeiro lugar não
por suas conquistas ou poderio econômico, mas são medidos principalmente pela sua
fidelidade (ou a falta dela) para com Deus.
O monoteísmo veio a ser o conceito central da religião judaica, numa crença em que
Javé o é único Deus; o cânon bíblico estabelecia a base para uma cultura sólida, uma
religião embasada e uma filosofia que aparece no meio do judaísmo de forma coerente
com o que versava os livros da Bíblia. A lei era de importância crucial e central na
religião judaica.
A religião dos patriarcas era a javista (centrada em Javé), apesar da Bíblia só usar o
nome Javé quando chega em Moisés, antes usando apenas Deus (Elohim) sobre as mais
diversas formas – El Shaddai, El Elyon, El Olam, El Roi, Javé Jhirê, El Bethel. O Deus
dos patriarcas eram representados por diversos nomes que são: O Deus de Abraão
(elohê abraham) – Gn 28:13; 31:42, 53; O Temido de Isaac (pahad Yishaq) – Gn 28:42,
53 e O Poderoso de Jacó (abir Ya’qob) – Gn 49:24.
O significado da fé javista – é essa fé que “constitui a força determinante que, ao
contrário dos pressupostos desfavoráveis, possibilitou a formação de uma literatura
israelítica autônoma, que se distingue fundamentalmente das demais literaturas do
Antigo Oriente pelo seu pensamento religioso. Trata-se, na realidade de um processo
que se prolonga ao longo dos anos, por vários séculos e seria por demais simplificar as
coisas, se quiséssemos limitá-lo à época que vai até os reis. Neste período, encontramse
apenas as raízes de onde, pouco a pouco, se desenvolveu a teologia israelítica, onde
se torna claro que as forças propulsoras da fé javista são as idéias da soberania divina
e da união com Deus” (Sellin – Fohrer – Introdução ao Antigo Testamento, vol. 1, pg
22 – Introdução).
A religião patriarcal era uma religião sacerdotal, posto que o chefe do clã, ou o pai de
família era o seu sacerdote, porém quando chega em Moisés, esse ofício é
institucionalizado e uma tribo em Israel é escolhida para fazer os serviços que advém
aos sacerdotes. Veio lutando contra a idolatria desde o seu surgimento como povo
(posto que Abraão vem de um povo politeísta e com certeza teve influências disso em
sua vida e na vida do seu povo e também peregrinaram por terras idólatras).
É uma religião que enfatiza a responsabilidade moral pessoal; crê na recompensa, como
crê no castigo; a salvação pessoal é luma doutrina que se desenvolveu naturalmente a
partir da crença na alma e na ressurreição do corpo, desenvolvida principalmente a
partir do século IV e II a.C., pelos hassideanos – uma facção farisaica.
Por causa de tudo isso e da diferença existente entre a religião em Israel e nos povos
vizinhos é que a fé judaica se tornou etnocêntrica, posto que os fariseus ensinavam
durante todo o seu tempo que a salvação pessoal só podia ser obtida por membro da fé
judaica, através da leitura e observância cuidadosa da lei mosaica que fora dado
exclusivamente a Israel, numa deturpação do princípio salvífico de Deus que planejou
ser glorificado com a salvação de pessoas de entre todos os povos.
As religiões da antiguidade, principalmente a do tempo em que os patriarcas estiveram
sobre a terra peregrinando são encontradas em suas diversas formas, mas principalmente
voltadas para o politeísmo (poli – muitos – theos – deus, sendo então literalmente
“muitos deuses”), mas também como formas de henoteísmo (heno – um – theos – deus,
sendo então literalmente “um deus”, ou “único deus”, numa forma velada de mostrar
que a responsabilidade do homem deve ser perante um deus, porém existem outros
deuses que tem outras atividades que não a comunicação com os homens, a qual é
devida somente ao deus adorado como sendo aquele que se comunica com o homem). É
o que chamamos de politeísmo teórico, ou velado. Há apenas uma referência que parece
ser monoteísta no passado (fora de Israel) que é o Egito na época de Iknathon, que
promoveu a adoração exclusiva a Aton, o deus-sol, porém, como bem falam os eruditos
até aí vemos a forma de henoteísmo, num politeísmo velado, que não encontra razão de
ser como o Deus da fé javista de Israel. Somente em três grandes religiões no mundo
encontramos o monoteísmo desenvolvido que são o cristianismo, o islamismo e o
judaísmo.
Abraão não era idólatra, mas vivia rodeado de idolatria. No princípio, com Adão, o
homem tivera UM SÓ DEUS e no Jardim viveu em comunhão com ele até que o pecado
veio para subverter a raça humana e desta forma, diversas manifestações do pecado
tomaram a natureza como tendo vida em si mesma (não sendo manifestação de Deus,
mas sim ‘fontes de vida’) e a partir daí desenvolveram-se teorias as mais diversas sobre
seres deificados, homens de Deus sendo transformados em seres divinos, numa clara
demonstração da atuação de Satanás no meio da história, para confundir e prevalecer
contra o povo de Deus, induzindo-os a olharem para a criatura no lugar do criador.
Apesar de o pai de Abrão ser idólatra (Js 24:2) e também os seus conterrâneos, Abraão
demonstra ser MONOTEÍSTA sem dúvida por DIVINA REVELAÇÃO, ou seja, Deus
manifestou-se a ele pessoalmente, numa revelação direta do Senhor. Existem lendas que
falam sobre Abraão sendo perseguido em criança por se recusar a adorar ídolos.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
De todos estes mistérios que a Palavra nos leva a pensar, sobre a formação do povo
judeu, de suas peregrinações entre tantas regiões e num labirinto de línguas, povos e
culturas distintas, devemos crer que a mão divina estava ali, levando e levantando-os de
lugar para lugar, de língua para língua, de cultura para cultura, de costume para
costume, preservando o que queria e deixando claro o que não era para ser assimilado
pelo seu povo.
No meio de tantas confusões que o mundo antigo nos oferece a vista, precisamos crer –
e isso fica patente aos olhos – que a eterna SOBERANIA de Deus é quem fez com que
o povo judeu viesse a se tornar um povo com as características que tem e que a partir
dele resolveu, por DECRETO eterno, dar-nos o seu Filho, Jesus, que é o supra-sumo da
revelação da Palavra, de Deus, da sua Vontade, de seu amor, da sua Bondade, do seu
Propósito, de sua Redenção, do Projeto de Salvação para o seu povo, do seu amor por
nós e de sua misericórdia, que afinal é a maneira como que ele mesmo se lança em
nosso meio para nos dar a salvação de maneira que iremos satisfazê-lo.
Entendamos então que, dentro do aspecto cultural, literário e lingüístico histórico
mundial, Deus separa e preserva uma cultura, vindo de Abraão que tem a sua
ascendência entre os “filhos de Deus” (dos quais se nos é tratado em Gn 6), que são os
filhos de Sete, filho de Adão, ascendência principal do chamado “povo de Deus” e que
também passa por Sem, filho de Noé, filho de Sete, filho de Adão.
Deus em seu eterno decreto e vontade soberana resolveu e fez cumprir o seu propósito
na formação do seu povo, com características peculiares, absorvendo, em todos os
sentidos o que Deus quer do seu povo, as características de um povo centrado em um só
DEUS, na fé javista, peculiar ao povo de Deus, no meio de povos e culturas politeístas e
polidemônicas, com inserções de cultos demoníacos e desprovidos da graça de Deus,
mas ainda assim, o povo de Deus, apesar de muitos problemas com o mal no seu
próprio meio, é preservado por Deus, tratado por Deus, levado por Deus a continuar sua
carreira de fé, apesar das quedas, idolatria, tentativa de abandono de Deus e de seu
governo sobre eles, mas sempre sendo levados por Deus para o retorno ao culto e
adoração voluntários ao Senhor que os criara e separara.
Isto é muito forte na cultura de Israel de um modo geral e deve nos servir de base para
lidarmos com nossa própria vida, pois este é o mesmo Deus que nos ESCOLHEU antes
da fundação do mundo para sermos dele em amor e nos PREDESTINOU para sermos
conforme a imagem de seu Filho, gerados por meio da graça que há em Cristo Jesus,
para a fé, perseverança e glorificação final em Cristo Jesus, levados por Deus, numa
demonstração de livre propósito e soberana vontade (dele mesmo!), para habitar os seus,
vivendo a eternidade, para a qual fomos criados, junto com ele, para a glória dele!